A educação dos cinco sentidos

13 outubro 2006

Do moderno e do eterno


Beethoven, Quarteto de cordas opus 131
Quarteto Takacs (Decca)



A mãe de todos os quartetos...A influência decisiva sobre Bartok, Boulez e Boucourechliev..Uma música que parece vir de uma dimensão distante das categorias tradicionais de classicismo, romantismo e modernismo. Um quarteto com sete movimentos, sendo o corpo central um movimento de tema e variações de quase 15 minutos. Uma análise mais detalhada mostra o quanto Beethoven inovou. Na realidade, o opus 131 é quase um meta-quarteto. Ao invés de começar com um movimento em forma-sonata, que estabelece o tema principal do quarteto, como fizeram Mozart e Haydn antes dele (e tantos outros depois), Beethoven deixa este movimento para o final. E constrói uma estrutura na qual os temas convergem para o final. Ao invés de um final leve, rápido, como é de praxe em Haydn, Beethoven inverte nossas expectativas. Esta virada genial é um experimento vitorioso de Beethoven. Não é absurdo imaginar que, sem o desafio do quarteto 131, compositores contemporâneos como Luigi Nono e Henri Duttileux não teriam a mesma motivação para escrever excelentes quartetos.

12 outubro 2006

O mestre Zen da música contemporânea

John Cage, "In a Landscape"
Stephen Drury, piano

Cage é talvez o mais incompreendido dos músicos contemporâneos. (In)famoso pela sua (não) música 4'33", Cage nada tem de provocador. Ele tem um rigoroso projeto musical de revolucionar nossa escuta, de nos provocar e de ampliar nossos horizontes sobre o que é música. "In a landscape" é um exemplo de música zen, que não parece ter começo ou fim, que fica circulando em nossa mente, e que nos leva a um estado de contemplação extática. Esta semana, estava voltando de Recife e numa viagem de 3 horas, Cage foi meu companheiro para me tirar do avião e levar-me às nuvens.