O universo etéreo dos quartetos de Bartók
Bartók: Quartetos de Cordas, Quarteto Takács (Decca)
Das formas tradicionais da música clássica, o quarteto de cordas é a única que permanece um desafio para os compositores. Enquanto sinfonias e concertos hoje tem poucos adeptos nos compositores contemporâneos, escrever um quarteto de cordas continua a ser um desafio para autores como Boulez, Carter, Dutilleux, Ligeti, Rihm, Scelsi, e Xenakis. Para que o quarteto continue a ser um genêro tão praticado no século XXI quanto o foi no século XIX, a contribuição-chave sem dúvida foi a de Béla Bartók. Seus quartetos de cordas representam uma completa renovação. Bartók construiu um universo totalmente particular, capaz de levar a mente do ouvinte para passeios interestelares.
Ouçam o quarteto no. 5. O segundo movimento ("Adagio molto") é uma música lunar, descarnada, etérea. Uma introdução em que o cello sustenta uma viagem feita pelos violinos. Quando menos se espera, estamos flutuando numa outra dimensão, levados por sons inesperados. O violino leva a tensão quase insustentável (como na "Grande Fuga" de Beethoven). A resposta do cello e da viola é uma corda que nos traz de volta à Terra. Como Bartók consegue isto? O segredo de todo grande artista é permitir diferentes interpretações, mas há a visão predominante é que a apropriação da música folclórica da Europa Central permitiu a Bartók libertar-se das harmonias tradicionais da música bem-comportada, mas manter seus quartetos no limiar da compreensão por mortais comuns. O quarteto no. 5 tem cinco movimentos simétricos (allegro-adagio-scherzo-andante-allegro) onde a inspiração folclórica é mais evidente no movimento central ("Scherzo alla bulgarese") e no quinto movimento. Após momentos de extrema tensão, o último movimento é quase um rondó clássico onde às vezes recuperamos um pouco da estética de Beethoven (op. 131). Embora Bartók não deixe de produzir sons inovadores, a introdução de um tema folclórico no meio do movimento representa uma pausa necessária para o ouvinte depois de tanta tensão. O efeito final é de uma viagem por luas inexploradas, que nos traz de volta à Terra e nos deixa desconcertados de tanta criatividade.
A interpretação do quarteto Takács, das que conheço (Emerson, Vegh, Linsday, Budapest) é de longe a melhor. Ela mantém o caráter cigano de Bartók, com as ênfases nas horas certas e uma articulação impecável. É preciso estar inteiramente disponível para esta música. Para mim, a melhor experiência foi ouvi-la no meio de uma trilha em Campos do Jordão, depois de jogar muita endofina no cérebro em uma longa subida.
Das formas tradicionais da música clássica, o quarteto de cordas é a única que permanece um desafio para os compositores. Enquanto sinfonias e concertos hoje tem poucos adeptos nos compositores contemporâneos, escrever um quarteto de cordas continua a ser um desafio para autores como Boulez, Carter, Dutilleux, Ligeti, Rihm, Scelsi, e Xenakis. Para que o quarteto continue a ser um genêro tão praticado no século XXI quanto o foi no século XIX, a contribuição-chave sem dúvida foi a de Béla Bartók. Seus quartetos de cordas representam uma completa renovação. Bartók construiu um universo totalmente particular, capaz de levar a mente do ouvinte para passeios interestelares.
Ouçam o quarteto no. 5. O segundo movimento ("Adagio molto") é uma música lunar, descarnada, etérea. Uma introdução em que o cello sustenta uma viagem feita pelos violinos. Quando menos se espera, estamos flutuando numa outra dimensão, levados por sons inesperados. O violino leva a tensão quase insustentável (como na "Grande Fuga" de Beethoven). A resposta do cello e da viola é uma corda que nos traz de volta à Terra. Como Bartók consegue isto? O segredo de todo grande artista é permitir diferentes interpretações, mas há a visão predominante é que a apropriação da música folclórica da Europa Central permitiu a Bartók libertar-se das harmonias tradicionais da música bem-comportada, mas manter seus quartetos no limiar da compreensão por mortais comuns. O quarteto no. 5 tem cinco movimentos simétricos (allegro-adagio-scherzo-andante-allegro) onde a inspiração folclórica é mais evidente no movimento central ("Scherzo alla bulgarese") e no quinto movimento. Após momentos de extrema tensão, o último movimento é quase um rondó clássico onde às vezes recuperamos um pouco da estética de Beethoven (op. 131). Embora Bartók não deixe de produzir sons inovadores, a introdução de um tema folclórico no meio do movimento representa uma pausa necessária para o ouvinte depois de tanta tensão. O efeito final é de uma viagem por luas inexploradas, que nos traz de volta à Terra e nos deixa desconcertados de tanta criatividade.
A interpretação do quarteto Takács, das que conheço (Emerson, Vegh, Linsday, Budapest) é de longe a melhor. Ela mantém o caráter cigano de Bartók, com as ênfases nas horas certas e uma articulação impecável. É preciso estar inteiramente disponível para esta música. Para mim, a melhor experiência foi ouvi-la no meio de uma trilha em Campos do Jordão, depois de jogar muita endofina no cérebro em uma longa subida.
1 Comments:
Meu caro amigo. Aprecio tanto sua literatura académica como comparto seu gusto musical mais neste caso acho que quando fala da "grande fuga" refere-se a J.S.Bach e não a Beethoven.
Um abraço
Jose Luis Alvarez
By Anônimo, at 3:22 AM
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